22.10.05

Suspiro


Certa vez li um texto que dizia que nossa vida devia ser ao contrário... nascermos com a morte e morrermos com o nascimento... Sair da velhice para chegar à infância. Por muito tempo questionei o quão verdadeiro seria. Não cheguei a conclusões... Acho que não poderia chegar sem antes viver tudo. Vivendo aos poucos as coisas já são complicadas. Talvez a infância fosse mais alegre, a única preocupação era o horário da brincadeira; qual seria a próxima travessura a ser feita... Mas me lembro nessa época de querer crescer, fazer o que minha idade não permitia... O que me impediam de fazer dizendo que “isso é coisa de gente grande”. Eu queria ser grande!!!
Hoje quando penso em fazer coisas de “gente grande” quero voltar à infância e ter o discernimento que tinha. Ter o olhar verdadeiro do meu amigo imaginário me aconselhando. Ter minha mãe segurando minha mão antes do dormir. Ter aquela energia de cair, machucar toda, mas levantar e continuar a brincadeira... Afinal, não é um tombo que derruba uma criança. Mas quando tento voltar, não posso! E dessa vez o que escuto é que “você não é mais criança para fazer isso”... Sim, a vida talvez seja complicada demais, paradoxal ao extremo. Mas é a vida, e é nesse caos que a cada ano que passa procuramos uma desculpa para responder às questões que nos colocam. É nesse caos que nos rendemos à idade, que não queremos admitir que sendo criança não devemos ser grandes e sendo grandes poderíamos sim ter um pouco da criança que um dia fomos!
É nessa ânsia de tentar explicar cada idade que perdemos o brilho de cada uma. Nostálgicos, idealistas e mesmo utópicos.
A vida é uma... Cada idade é uma...
Talvez quando chegar à velhice perceba que estou nascendo para uma vida e não morrendo por outra... Talvez esse seja o sentido daquele texto que citei.

A descoberta de cada um nasce a cada dia que se constrói o próximo suspiro de vida!

.....2 décadas......

11.10.05

Harmonia oposta

Eram duas... não as do arco-íris.... apenas as da inquietude, da força, da vontade de alguém. Não ofereciam um pote de ouro. Nem duendes verdes pra brincar. Eram antes reais que um conto de fadas. Mas eram! Eram elas e ali estavam. Opostas talvez, melhor completas. Uma com a ausência... a outra com o conjunto de tudo. Uma queria tudo, a outra nada. Pareciam competir, gritar... lutar . Mas quando uma morreu a outra perdeu o sentido. Pra quem seria oposta? Qual seria sua função? Não querer já o que não era desejado com a ausência da outra?
Perdeu força....
Perdeu a ausência....
E descobriu, antes tarde que nunca, que a oposição constrói o sonho e a ilusão de superar constrói a conquista.
E só... já não mais era... apenas existia dentre tudo que era ausente.

6.10.05

...Flechas....

Toca o segundo sinal. Onde está o terceiro? Pronto. Mais alguns minutos e ele está aí. As cortinas se abrem. Olhos parecem agora centenas de flechas apontando para um mesmo lugar. Ele. Não o terceiro sinal... apenas ele que queria ultrapassar o tempo. E acabou no palco. Por que? Talvez ali o tempo não seja tempo. Ou ele não seja ele. Quem saberá?! Mas lá está ele. De pé diante das flechas! Mas a boca que devia gritar, se cala... Os braços que deviam se abrir, se retraem...As pernas que deviam pular, se curvam... Os olhos que deviam se abrir, se fecham.....

Cadê Ele?
Não... ali já não está!!! Se perdeu no tempo que não era tempo, ou nele que não era ele?
Silêncio.......
As cortinas se fecham....
E o tempo passa....
Real? Vida? Sonho?..... Superação?
Quem saberá?! Agora só se enchergam as flechas!